21.1.18


            No dia 20 de janeiro de 2018 aconteceu algo inédito comigo, meu avô falecido a mais de 20 anos veio simbolicamente em meu sonho transmitir uma mensagem. Meu lance com sonhos sempre foi bem intenso, mas nunca me dediquei a depositar grande valia sobre, devido a dificuldade de decodificação presente no inconsciente. Porém desta vez, aliado a uma rápida pesquisa na internet pude formar uma leitura da mensagem.
            Sempre fui uma pessoa difícil de conviver, tenho consciência disso e numa ânsia de me aprimorar como pessoa, creio que tenho chegado a estágios de autoconhecimento muito relevantes. Através principalmente das leituras de Nietzsche, dos gregos antigos e de textos budistas pude me conectar mais com minha própria natureza para assim tentar dominá-la; ora com mais dificuldade, dor e conflito, ora mais facilmente; mas nunca é fácil, pois como me ensinou Empédocles, as forças antagônicas do mundo é que nos forjam, e assim sigo sendo forjado. Todavia entender o rizoma de Deleuze me faz ter relações muito mais saudáveis do que quando minha fé num cristianismo platonismo me fazia obrigatoriamente assumir certas certezas. E é justamente a estrada percorrida que vai nos fazendo eliminar as certezas.
            Outra coisa que costumo estudar a certo tempo são as artes marciais, é minha ligação mais forte com qualquer cultura oriental. Confesso que sou muito ocidental, meu comportamento, minhas atitudes, minha “aparência”, mas se tem algo que pude fazer como brasileiro antropófago que sou é aderir a aspectos da filosofia oriental. O próprio termo filosofia parece tomar outro sentido quando nos referimos aos povos de lá, tem mais a ver com o ethos, que com uma definição de amar o conhecimento.
            Habito minha própria casa, diria Nietzsche, os textos budistas me ajudam a estar presente, ou seja, ser consciente do agora. Nas artes marciais japonesas existe o lugar onde se desenvolve certa técnica, mas não é só isso, como no caso da luta transformada em esporte, e sim o lugar do aprimoramento pessoal; este lugar se chama Dojo. A tradução do termo é “local do caminho” e é considerado a própria casa dos praticantes. O termo nasceu no zen-budismo já que era o local onde os monges meditavam, mas também exercitavam o corpo.
            Paulo de Tarso não conheceu Jesus, apesar disso ele é o cara que praticamente fundou as bases do cristianismo de viés platônico, sendo este o viés mais poderoso de tal religião. Na primeira carta que este escreveu ao povo de Corinto ele diz de modo extremamente idealista herdando assim a separação do nosso existir aqui de um existir ideal e perfeito presente em outro lugar, quando diz que o corpo é o templo do Espírito Santo e não nosso. Esse novo modo de relação com a vida com certeza causou grandes problemas ao nosso ocidente, inclusive desvirtuando comportamentos, nos permitiu criar tantas outras leituras dualistas de mundo, deslocando os valores do presente e do um, para os poderes externos, grande exemplo disso foram as teorias comunistas e socialistas que vieram para substituir o deus morto pós-iluminista, como nova moral.
            Moral é um termo latino, ele deveria ser a tradução de ética, porém este povo ao criar o novo termo esqueceu o sentido etimológico do ethos, que é o habitar. Na moral já não habitamos, mas ao modo platônico transferimos nossos valores aos que um poder julgou ser o bem maior.
            Viver dez anos com outra pessoa também me ensinou muito a duras penas, tentar construir valores convergentes entre dois para uma relação que nas suas vontades e interesses pudessem dar mais alegrias que tristezas. Isso implica abdicar de certos aspectos da natureza do indivíduo, tanto porque criamos tamanho afeto por outrem que assim o fazemos, achamos que na balança tal esforço vale.
            Quando finalmente achamos que tal empreitada já não vale, o fim parece algo normal, deste que venha com saúde. A mesma saúde que busco para o meu eu, para o meu hábito, busco para as relações que julgo importantes a mim e se assim o são, as valorizo.  
Das quatro pessoas mais próximas que tive em toda minha vida, por três delas fui ultrajado violentamente nos últimos dias, porém a última foi um golpe fatal porque era a única em que eu realmente acreditei que existia certa aproximação desses hábitos, justamente por ter vivido tanto tempo dividindo quase tudo. E aí vem a grande lição da vida em Nietzsche, os níveis de interesse existentes nas relações humanas e a prova da falácia platônica.
As palavras são maneiras que criamos de interpretar as coisas que vêm até nós, mas não são qualquer realidade. Se é pelo diálogo que nossa espécie chega a algum lugar, as mesmas palavras que são usadas para criar esperança, conquistar e adquirir, são usadas para destruir. A palavra não possui valor qualquer em si, ela é um mero meio de conquistar o que interessa ao que deseja. Sendo assim se por elas projetamos o amor da nossa vida, em 24 horas transformamos o mesmo objeto em lixo e o descartamos se nosso interesse reverteu o desejo em repulsa.
Donna Haraway no seu feminismo cyborg nos fala que a grande vantagem deste sobre o feminismo marxista é o não dualismo das relações, pois segundo ela e o próprio Deleuze, cada relação tem sua própria política, digamos assim, onde as regras são específicas em cada contrato de relação. É o jogo da vida com regras acordadas, porém quando se tem uma relação mais longa e intensa esse jogo fica mais complexo, fazendo com que as regras precisem ser atualizadas e modificadas, é normal, vemos isso na evolução dos esportes, por exemplo.
A desonestidade está justamente em acordar as regras e no meio do jogo querer mudá-las porque seu time está perdendo, é o espírito antidesportista daquele que não aceita a derrota no jogo, sendo esta parte inerente da evolução pessoal ou de qualquer coisa, lembremos Empédocles novamente. E aí entra o jogo de poder, quando a moral sobressai às relações contratuais, o que ocorre com os estados totalitários é o mesmo que ocorre na pelada de rua, ou seja, o desonesto (desonesto por não buscar o autoconhecimento, mas ainda assim querer chegar não em seu destino pessoal, mas onde ele possa ser intocável, independente da condição que isso implica ao próximo) não aceitando a possibilidade de perder por não ver na derrota a natureza do jogo e extrair dela condições para evoluir na técnica pessoal, tendo este o poder, sendo o dono da bola, ele simplesmente a segura em seus braços e vai pra casa, dando fim ao jogo sem o comum acordo de todos os participantes.
O grande ensinamento do Dojo é este, o de respeitar o espírito das artes marciais, sendo o local do caminho ele nos indica que habitamos este caminho que leva à iluminação, nós nunca lutamos contra outro, a luta é pessoal, a derrota é pessoal, àquele que não aceita a derrota é alguém que não conhece a si mesmo, aquele que deseja o poder é desonesto com a espécie porque pode usar de meios para benefício próprio, e este é incapaz de fazer uma reverência tanto ao Dojo vazio quanto ao semelhante.
O caminho para a iluminação é um querer pessoal daquele que entende a harmonia que há no mundo físico. Se Nietzsche nos fala de modificarmos o mundo através dos valores da nossa existência é que somos seres ativos junto ao mundo vivo, enquanto a espera no ideal estático das ideias não passa de uma morte em vida.  
Portanto, se nosso objetivo é o aprimoramento pessoal quer dizer que o que fazemos é positivo ao mundo em que vivemos como um todo e isso implica todos os outros seres vivos e as matérias inanimadas que nos relacionamos se estendendo ao infinito.
Feliz aquele que compreende a mensagem.

Diego Marcell
21/01/2018

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