Estou com um problema sério: não consigo dormir e depois não consigo
acordar. Está cada vez mais difícil ver a luz do sol. Produzo e não termino.
Barrado borrado inconstante. Sem energia. Cabeça vazia. Corpo pede e a mente
não tem mais força. Preciso dormir mas não tenho porque dormir então levo cada
momento. Às vezes desconcentro, às vezes perdido retorno. Às vezes inconstante
choro, berro, gargalho. Mergulho me afogo no raso e volto. Sem praia nem
concreto. O mato me ojeriza. A floresta nada causa, ela sofre.
Hoje decidi mais um plano de carreira, destino: teatro. Como? Não sei.
Quer dizer, até sei, mas esse destino não pode mais ser rígido, diante do que
vem ocorrendo eu aprendi, destino rígido não dá. Mas é preciso um bom banheiro
e um bom colchão. Um fogão. É preciso dinheiro pro gás.
Perambulo pela casa, em busca de alguma emoção. Provoco os passantes na
rua, todos me ignoram. Provoco na internet, ignorado mais ainda. Sou escassez
do que fui. Sou pó de existente, mas ainda percebo muito do que fazer.
Sinto falta de ler, Hesse, Kundera, Dostoiévski. E os filósofos nem me
falem. Sinto falta das festas, dos porres e às vezes da maconha. Mas sinto
ainda mais falta do jazz e do synthpop.
Quero filmar os roteiros com novas atrizes. Quero ser ator de outros
diretores. Quero voltar a editar os muitos materiais que tenho e que nem estão
comigo. Não tenho computador nem programa pra isso.
Afogado em fumaça de cigarro pirata. Embriagado de café. Escurece, meu
almoço/janta. Minha janta. Madrugada em neblina me instiga, não há fantasmas,
vozes de inexistentes. Começo a perceber a decadência do corpo. As dores por
qualquer engano. Por qualquer movimento torto uma semana de dores. Desconforto
interno, externo, músculo, respiração e olhos embaçados. Começo a perceber a
decadência do corpo e ainda assim preciso lutar. Como será correr, jogar,
pular? Pressão baixa, apago, volto, nada sei da vida e da morte, posso apenas
sumir e deixar de dizer ladainhas.
Como um forasteiro ando fazendo muita merda. Em um mês já fui agredido,
tentaram arrancar coisas de minhas mãos, já separei brigas e me envolvi com a
polícia. Mesmo não fazendo nada além do que costumo fazer sendo o que sou
simplesmente. Apenas existir pode ser ao outro motivo de conflito, afronta,
geração de desconforto e estopim de fragilidade.
Tenho tinta e não tenho tela.
Posso apenas ir, ser efêmero, pra que tanta tragédia? Transformaram os
ditirambos em estátuas, desde então a festa é barrada por leis. As leis servem
aos fracos, e eis que a humanidade taxou a decadência como um direito à vida,
agora a vida está decadente porque o fraco reina num trono erguido por
covardes.
Eu sou uma partícula de vida que flutua onde já não se vive sem aparelho
e eu me recuso a vestir a máscara.
Diego Marcell
06/05/2018
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relatos
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